Neurologia
O mistério dos neurónios que morrem
Cerca de 7 a 10 milhões de pessoas em todo o mundo, e 20 mil em Portugal, vivem com a doença de Parkinson que é, a seguir ao Alzheimer, a doença neurodegenerativa mais comum. O aumento da esperança de vida trará, quase inevitavelmente, um aumento considerável do número de doentes, já que esta doença atinge, essencialmente, as pessoas com idade superior a 65 anos.
O que é?
A doença de Parkinson desenvolve-se quando os neurónios (células nervosas) presentes no cérebro morrem. Estes neurónios produzem uma substância denominada dopamina, que é um mensageiro químico que exerce a sua ação em zonas do cérebro que comandam os movimentos.
Compreende-se assim que a redução dos níveis de dopamina no organismo dificulte o controlo da tensão muscular e dos movimentos. Se grande parte dessas células morrerem, ocorrem manifestações da doença de Parkinson. Não se sabe, porém, por que razão as células morrem e o que leva umas pessoas a desenvolverem a doença e outras não.
Quando ocorre?
A prevalência da doença aumenta com a idade e é mais comum nos homens do que nas mulheres. Apesar de ser rara antes dos 50 anos, ainda assim em cerca de 5% dos casos a doença surge antes dos 40.
Quais são os sintomas?
Os sintomas mais comuns estão relacionados com o sistema motor, como tremores, rigidez do tronco e dos membros e lentidão dos movimentos.
Em mais de metade das situações, a doença de Parkinson manifesta-se, no início, por um tremor ligeiro num membro (braço, mão ou perna) que surge quando o membro está em repouso mas pode aumentar em momentos de maior tensão. No entanto, com a evolução da doença, o tremor espalha-se e pode afetar as extremidades de ambos os lados do corpo.
O doente tem, progressivamente, dificuldades em sentar-se e levantar-se e a marcha é feita em pequenos passos, arrastados e sem o normal movimento pendular dos braços. A situação agrava-se, progressivamente, e a doença torna o quotidiano muito incapacitante, essencialmente na componente física, sendo que existem também alterações não motoras, nomeadamente no sono, no pensamento, na fala e no estado de alma dos doentes.
Existem efeitos acessórios da doença?
A depressão ou ansiedade são situações frequentes em pacientes com Parkinson bem como as perturbações da memória. Podem também ocorrer dificuldades visuais, incontinência urinária e alterações na sexualidade, cãibras, dificuldades de mastigação e deglutição.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é mais fácil de fazer quando se manifestam os sintomas de rigidez, tremor e lentidão anormal dos movimentos e também uma alteração da postura com inclinação da cabeça e do tronco para a frente e um caminhar com passos pequenos e arrastados. Mas nos casos em que a doença começa por rigidez e lentificação dos movimentos, sem tremor, o diagnóstico é mais difícil.
Que tipos de tratamento existem?
Não existe ainda cura para a doença de Parkinson e a terapêutica depende da análise detalhada caso a caso e deve ser feita por um neurologista.
O tratamento da doença procura, essencialmente, manter a qualidade de vida dos doentes, sendo que os sintomas podem ser controlados através de diversos tipos de medicamentos. Em algumas situações, está indicada a cirurgia para colocação de um implante que faz estimulação de uma região do cérebro e permite melhorar essencialmente a parte motora.
António Hipólito de Aguiar
(Farmacêutico; Docente Universitário)
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