Sistema digestivo
Primeiro, manter o intestino mais saudável e logo minorar os sintomas
Atualmente ouve-se falar muito da síndrome do intestino irritável que, como o nome indica, é uma doença resultante da inflamação do intestino, que surge habitualmente em pessoas que são mais suscetíveis a determinados alimentos ou substâncias que são ingeridas. Vejamos em 1º lugar a relevância do intestino para a nossa saúde.
Para que serve o intestino?
O intestino é um órgão de digestão, absorção e excreção e é, para muitos estudiosos, o 2º cérebro, dentro do próprio organismo.
O intestino delgado mede entre 6 e 9 metros. O intestino grosso tem 1,5 metros, mas é 3 vezes mais largo.
Entre as numerosas funções que desempenha, o intestino recebe os nutrientes essenciais à nutrição, metaboliza-os (transforma-os em substâncias úteis), produz energia para o funcionamento de todo o corpo (inclusive o cérebro), participa em funções endócrinas (produção de hormonas), cuida da nossa proteção (função imunológica) e excreta aquilo que não precisamos por meio das fezes.
Porque é que atualmente sofremos mais dos intestinos?
A industrialização da nossa alimentação e a alteração do padrão alimentar mediterrânico, muito têm contribuído para que o equilíbrio da flora intestinal se alterasse. Hoje, sabe-se que a maioria da população sofre de obstipação (afeção intestinal que se evidência por uma reduzida frequência de evacuação, por vezes, com esforço, fezes mal formadas e secas). Passou a ser “normal” irmos poucas vezes à casa de banho, quando deveria ser o contrário, como se o intestino fosse um órgão de “acumulação/ reserva” e não um órgão de excreção. Muitos estudos relacionam a obstipação com outras co-morbilidades, nomeadamente, o cancro de mama.
A obstipação pode ser o primeiro sinal/sintoma de que a saúde não vai bem!
Quais as causas mais usuais que causam a síndrome do intestino irritável?
As paredes dos intestinos são revestidas com músculos que se contraem e relaxam conforme o alimento ingerido vai atravessando o estômago em direção ao reto. Na síndrome do intestino irritável, as contrações podem ser mais fortes e podem durar mais tempo do que o normal, fazendo com que surjam alguns sintomas característicos da doença, como dor abdominal, gases, flatulência e diarreia. No entanto, pode acontecer justamente o oposto, com contrações intestinais mais fracas que o normal, o que torna mais lenta a passagem de alimentos e conduz a fezes mais duras.
Embora não se saiba com precisão o que causa maioritariamente esta doença, as causas mais frequentes são certos alimentos, stress, mau funcionamento hormonal e doenças, como gastroenterites.
Quais são os alimentos indesejados à flora intestinal?
Os alimentos refinados e industrializados, os transgénicos, os produtos de animais criados em cativeiro, o açúcar branco e o pão branco favorecem o desenvolvimento das bactérias nocivas que vivem sem oxigénio (anaeróbicas). É importante saber que as bactérias intestinais sãs têm também uma outra missão: produzem praticamente todas as vitaminas hidrossolúveis, exceto a vitamina C, bem como a vitamina B6, o ácido nicotínico, a vitamina B12 e o ácido fólico e vitamina K, pelo que o mau funcionamento do intestino afeta muitas outras atividades fisiológicas do organismo.
Quais são os principais fatores de risco?
Muitas pessoas têm sinais e sintomas da síndrome do intestino irritável ocasionalmente, mas algumas são mais propensas a desenvolver a doença, nomeadamente:
- Pessoas do sexo feminino - a doença atinge aproximadamente o dobro de mulheres;
- Pessoas até aos 45 anos de idade;
- Pessoas com histórico familiar da doença;
- Ter algum problema de saúde mental, como ansiedade, depressão, transtorno de personalidade e traumas.
Como podemos manter o intestino mais saudável?
Para manter o intestino saudável, é preciso ter uma alimentação variada, contendo diferentes fontes de nutrientes (hidratos de carbono, proteínas e gorduras), associada à ingestão frequente de água e líquidos (1,5 a 2 litros por dia).
Muito importante também é a atenção aos estímulos intestinais, ou seja, responder à vontade de evacuar. Uma quantidade diária de 25g a 30g de fibras variadas (a média em Portugal é 12 g) deve ser ingerida para facilitar a evacuação.
- Evite alimentos industrializados, fumados e conservas (são irritantes da mucosa intestinal);
- Deve-se praticar atividade física regular;
- Respeitar o funcionamento do intestino, não deixar a vontade de ir ao WC “passar” porque não está em casa e não gosta de usar outros lavabos;
- Não usar laxantes, nem antibióticos e analgésicos, indiscriminadamente e sem orientação médica.
António Hipólito de Aguiar
(Farmacêutico; Docente Universitário)
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