Choque anafilático – Adrenalina depressa!

Sofre ou tem alguém em casa que sofre de alergias graves? O seu médico prescreveu-lhe uma caneta de adrenalina? Então sabe que este fármaco pode salvar a vida em caso de reação anafilática.  

Mais de 17 milhões de pessoas sofre de alergias alimentares graves só na Europa, e destas uma em cada quatro são crianças em idade escolar. Nos últimos 20 anos, tem-se verificado um aumento das reações alérgicas graves provocadas por alergia alimentar, sobretudo na população mais jovem. 

A anafilaxia, de notificação obrigatória em Portugal desde 2012, ainda é sub-diagnosticada, pondo em risco 0,5 a 1,5% da população portuguesa. Até aos 18 anos, as causas de anafilaxia são sobretudo as alergias aos alimentos. 

Sendo a anafilaxia uma emergência médica que pode ser fatal, é, pois, da maior importância saber reconhecer os sinais de alarme para poder atuar rápida e atempadamente. 

O que é anafilaxia? 

Anafilaxia ou choque/reação anafilática é uma reação alérgica grave generalizada ou sistémica, que pode ser fatal. É caraterizada pelo rápido início (ocorre em segundos a minutos) de dificuldade respiratória e/ou circulatória, geralmente associada a manifestações da pele (urticária) e/ou das mucosas (edema). 

Esta reação alérgica resulta de uma resposta exagerada do sistema imunitário a um alergénio. Os alergénios mais comuns que são responsáveis pela maioria dos casos de anafilaxia são: 

• Alimentos (amendoim e frutos secos, crustáceos, ovo, leite, peixe, soja, trigo, entre outros);  
• Medicamentos (sobretudo anti-inflamatórios e antibióticos); 
• Veneno de picadas de insetos. 

Observa-se que a anafilaxia nas crianças ocorre mais frequentemente devido a alergias alimentares, enquanto que nos adultos, são os medicamentos e as picadas de insetos as causas mais comuns de reação anafilática. 

Quais os sinais/sintomas de alarme? 

Os sintomas e sinais do choque anafilático ocorrem normalmente até 2 horas após a exposição ao alergénio. Se o alergénio for um alimento, é frequente aparecerem sintomas de anafilaxia até 30 min após a exposição, e no caso de o alergénio ser veneno de inseto ou um medicamento, estes sintomas surgem ainda mais rapidamente (ao fim de 5 a 15 minutos). No entanto, dependendo dos órgãos envolvidos e da severidade da alergia, as manifestações clínicas da anafilaxia podem ocorrer em apenas alguns segundos. 

São vários os sinais de alarme. As manifestações cutâneas estão presentes na maioria dos casos e aparecem associadas a sintomas respiratórios e/ou cardiovasculares e/ou gastrointestinais.  

• Manifestações cutâneas – envolvimento da pele e/ou mucosas: 
  • Urticária (comichão) e eritema generalizados; 
  • Edema (inchaço) da língua, úvula, lábios, garganta, pálpebras, face, mãos e/ou pés; 
  • Sensação de calor na língua.
• Sintomas cardiovasculares – mais alarmantes e mais frequentes na anafilaxia em adultos: 
  • Hipotensão ou sintomas associados (tonturas, incontinência, sensação de desmaio, hipotonia - colapso).
• Sintomas respiratórios – mais alarmantes e mais frequentes na anafilaxia em crianças:  
  • Tosse persistente (normalmente seca); 
  • Dificuldade em respirar (respiração sibilante); 
  • Rouquidão.
• Sintomas gastrointestinais:
  • Náuseas, vómitos, cãibras abdominais, diarreia. 

Se ocorrerem estes sintomas e se a pessoa afetada tiver consigo, uma caneta de adrenalina (prescrita pelo médico), significa que deve administrá-la, o quanto antes. 

Se a pessoa afetada não tiver consigo uma caneta de adrenalina, é altura para ligar para o 112 ou dirigir-se de imediato a um serviço de urgência. 

O que é a adrenalina?  

A adrenalina, também chamada de epinefrina, é uma substância que aumenta a pressão arterial por constrição dos vasos sanguíneos e normaliza a respiração, provocando um relaxamento nos músculos respiratórios. Reduz também o edema que surge na face, lábios e outras zonas e estimula o batimento cardíaco. Tem capacidade para reverter o choque anafilático. 

Existem duas marcas no mercado: Epipen® e Anapen® sob forma de auto-injetores para administração intramuscular. 

Como administrar a adrenalina? 

Se lhe foi prescrita a si, ou a um familiar seu, deve saber antecipadamente como se administra a caneta de adrenalina. Leia o folheto informativo para estar preparado para atuar imediatamente e com determinação na presença de uma reação anafilática. Contudo, aqui fica uma breve descrição do procedimento: 

• Verificar se a solução está límpida e incolor; 
• Segurar o auto injetor com a mão dominante em volta do dispositivo;
• Retirar a tampa de segurança; 
• Encostar o dispositivo firmemente contra a porção exterior da coxa num ângulo de 90º (irá ouvir um clique) e manter essa posição por 10 segundos (a administração pode ser feita por cima da roupa). 
• Remover o auto injetor; 
• Massajar suavemente o local de administração por 10 segundos. 
  
  

O que fazer depois? 

• Ligue para o 112; 
• Enquanto espera pela ambulância, a pessoa deve permanecer deitada com os pés mais elevados, exceto se a respiração se tornar mais difícil nesta posição. Nesse caso, deverá ficar semi-sentado; 
• Se os sintomas não melhorarem ao fim de 5-15 minutos após a administração de adrenalina, deverá ser administrada uma segunda dose do medicamento (uma segunda caneta).  

Na sequência de um episódio de anafilaxia, o doente deve ser mantido em observação clínica pelo menos durante 8 a 24 horas, devido à possibilidade de ocorrer uma reação anafilática bifásica, que pode ser mais severa que a primeira.  

É importante ensinar os familiares, amigos e colegas a reconhecerem os sinais e sintomas de um choque anafilático. Devem também saber o local onde guarda a caneta de adrenalina e modo de administração da mesma.

Fontes
iSaúde
Revista Farmácia Distribuição

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